Artigo: O símbolo da solidariedade
Joinville perdeu o símbolo de uma era, de um tempo onde a opulência convive com a miséria. Morreu o padre Luiz Facchini, aquele que não mediu esforços para acabar com a fome, principalmente entre as crianças. Ele dizia: “Combater a miséria e a fome é um imperativo religioso, ético e social. Por isso, digo e repito: se morrer de fome é a maior miséria humana, deixar alguém morrer de fome é a maior traição ao grito de Jesus, é a maior miséria espiritual”.
Quando completou 25 anos de sacerdócio, em outubro de 1994, Luiz Facchini decidiu criar a Fundação Pauli Madi Pró-Solidariedade e Vida, mais tarde denominada Fundação Padre Luiz Facchini Pró-Solidariedade e Vida. O trabalho tinha três vertentes: o das cozinhas comunitárias, para impedir que crianças passassem fome; o abrigo, para impedir que crianças ficassem abandonadas; e o cidadão do futuro, para tirar meninos de oito a 16 anos da ociosidade, oferecendo cursos profissionalizantes no contra turno escolar. E tudo isto ele conseguiu contando com o apoio das pessoas e empresas.
Para se ver a dimensão do projeto, no auge de sua atuação, a Fundação chegou a ter 34 cozinhas comunitárias em Joinville e região, distribuindo 4 mil refeições diárias. Em seu livro “Solidariedade”, padre Facchini conta que “dezenas de crianças em situação de risco foram encaminhadas ao abrigo de nossa Fundação pelos conselheiros titulares de toda a região para o nosso Projeto Cidadão do Futuro. Centenas de crianças passaram e continuam frequentando nossas oficinas de informática, música, desenho, basquete, futsal, violão, pintura, teatro, dança urbana, canto, artesanato, arte com tecido, dentre outras. Foram muitos os meninos e meninas que não se tornaram vítimas das drogas e da marginalidade por conta de suas escolhas. (..) Valeu a pena acreditar na força da solidariedade, apesar do tamanho gigantesco e assustador dos problemas sociais”.
Aqui faço minhas as palavras do teólogo Leonardo Boff: “Cristo não veio para criar cristãos, mas para que haja pessoas solidárias, compassivas, comprometidas com a ética e os valores humano-espirituais que dignificam uma sociedade”. Padre Facchini, assim como o papa Francisco, trouxe os Evangelhos para perto de nós. Obrigado por este exemplo de bondade, coisa tão rara nos tempos atuais. Sentiremos muito a sua falta.
* Darci de Matos é deputado estadual darci@darcidematos.com.br